02 outubro 2010

A FELICIDADE!


        A felicidade é um sentimento nobre e positivo em que a criatura se sente contente e realizada, satisfeita consigo mesma, que entende e aceita os encargos da vida com satisfação e naturalidade. Ser feliz é cumprir os seus deveres com prazer e satisfação, sabendo dar à vida a sua verdadeira dimensão e, portanto, estar de bem com a vida. Ser feliz é reconhecer a sua essência espiritual e vibrar de alegria e contentamento, valorizando e dignificando todos os grandes atributos do espírito em cada momento de sua vida. A felicidade é, portanto, um processo de crescimento e evolução espiritual duradouro, permanente e que consiste em eliminar ou pelo menos lutar e tentar afastar as frustrações de seu caminho. Não é fácil ser feliz, mas é possível!
        Na prática, a felicidade resulta da forma como nós construímos nossa auto-estima ou amor-próprio. A auto-estima é uma imagem de nós mesmos, que criamos mentalmente para caracterizar nossa personalidade, nossa maneira de ser e agir. É a maneira como nos vemos e sentimos no contexto entre as demais criaturas, nossos semelhantes. É a maneira como nos identificamos perante o próximo e perante nós mesmos. Apagar essa imagem leva à decepção e, por um momento, sentimo-nos deprimidos e frustrados. Com o tempo, com nossas vivências ou experiências da vida, vamos aprendendo a redirecionar nossas energias para um caminho mais realista, vamos crescendo espiritualmente e ganhando confiança em nós mesmos. Este é um processo permanente de realização espiritual e adaptação à realidade material.
        Nessa realidade em que a criatura se insere, a pessoa é avaliada segundo três pontos de vista: no seu próprio ponto de vista ela é o que pensa ser; na ótica de seus semelhantes, ela é o que os outros pensam dela; e, na verdadeira essência, ela é o que é, o que deve ser de fato, um espírito em evolução. Daí resulta toda uma necessidade de adaptação à realidade para não ter que viver atrelada às ilusões e frustrações, e disso tudo extrair a alegria de viver e ser feliz. A felicidade só será possível, então, mediante esse entendimento, essa sabedoria que reside na aceitação de que não somos perfeitos e temos que evoluir para a perfeição. E, como não há evolução sem dores e sofrimentos, compete a cada um esforçar-se para, pelo menos, obter paz e serenidade, e conseguir viver com uma felicidade relativa, já que a felicidade absoluta não é possível neste mundo, porque não há desprendimento nem desapego às coisas e valores materiais nos quais se fixam ilusoriamente os interesses humanos. Pelo fato de a felicidade não admitir comparações, cada um a tem ou a terá no exato limite de sua sabedoria de vida. Não existe felicidade sem espiritualização do ser. Por isso mesmo, não se deve confundir felicidade com lazer ou prazer, do mesmo modo que não se deve confundir sabedoria com conhecimento ou cultura.
        Foi dito, linhas atrás, que a felicidade é um processo de realização espiritual e de adaptação à realidade material. Sendo um processo, ela tem uma duração — princípio, meio e fim. Para que ela ocorra, é preciso afastar toda a frustração e não buscar nenhuma finalidade, nenhum significado especial, a não ser o de procurar sentir o estado de graça que ela proporciona à criatura, uma paz interior muito grande e uma serenidade inexcedível. Mas, a felicidade não é permanente, é efêmera, passageira. Logo vêm os novos problemas que nos tomam toda a atenção e novos cuidados são necessários para enfrentá-los e resolvê-los. Então, caímos de novo na realidade da vida terrena.
        Sem teorizar muito, vamos passar aos aspectos práticos que, dominados pela criatura, poderão fazê-la feliz, embora gozando de uma felicidade relativa. Vamos desdobrar esses aspectos ou pré-requisitos em dez atitudes para a felicidade, sem maior preocupação de manter uma linha divisória entre elas. A palavra atitude é usada aqui com o significado de um esforço interior da criatura para criar seu próprio ambiente de felicidade.

        PRIMEIRA ATITUDE: Adapte o conceito de felicidade à sua personalidade.
        Para poder reconhecer a felicidade em nós é preciso provar, ter passado pelos sentimentos que se lhe contrapõem como a tristeza, a dor, o sofrimento e a melancolia. Embora as criaturas prefiram a alegria, ninguém consegue se livrar por inteiro da dor e do sofrimento. Para tentar anular este efeito, temos que nos esforçar para aumentar o nosso bem-estar, usando os seguintes recursos ou ingredientes básicos:

        1) Manter relações de simpatia, empatia, amizade e intimidade com as pessoas.
        2) Selecionar pessoas e amigos e estreitar a confiança recíproca com eles.
        3) Melhorar sempre o sentimento de auto-aceitação, gostando de si mesmo.
        4) Identificar seus padrões pessoais e manter a sua autonomia de pensar e agir.
        5) Não imitar os padrões dos outros: a felicidade não admite comparações.
        6) Criar o seu ambiente, ou seja, o seu pequeno mundo e sentir-se confortável.
        7) Não se isolar e esforçar-se para aumentar o seu crescimento pessoal.
        8) Ser flexível e tolerante, requisitos essenciais para a sua espiritualização.
        9) Ter objetivos na sua vida e lutar pelos seus ideais — isso é a própria felicidade.

        É preciso não confundir felicidade com estados de ânimo efêmeros em que a euforia embriaga os sentidos. O bem-estar psicológico repousa em desafios duros que requerem esforço e disciplina, podendo entrar em conflito com a felicidade passageira.
        A felicidade não é uma emoção tão efêmera quantos alguns possam imaginar. Ela é um sentimento tranqüilo e bom que a criatura experimenta quando, enfrentando os embates da vida, vence-os um a um. É, de fato, a percepção da criatura de que possui uma força muito poderosa, capaz de superar tudo e, ao final dos embates, sentir-se feliz!
        Erra aquele que pensa que a felicidade é o oposto da tristeza: o oposto desta é a alegria, a qual nem sempre está associada à felicidade. A felicidade é uma espécie de graça que convocamos para vencer a tristeza. Ela não desaparece nos tempos difíceis, apenas assume outra forma. A busca da felicidade não deve ser uma fuga para longe da dor ou sofrimento; antes, devemos pensar no sofrimento como uma prova de seu grande potencial para atingir a felicidade. Sabemos também, que não se pode sentir alegria sem ter experimentado a tristeza.

        SEGUNDA ATITUDE: Não aceite insinuações, nem as suas próprias.
        Ao redefinir e adaptar os critérios e conceitos de felicidade, assegure-se de que essa definição é mesmo sua, ou seja, a que melhor se ajusta à sua personalidade. Muitas pessoas vivem a nos fazer insinuações, para tomar esta ou aquela decisão, para nos comportar da forma como elas estão acostumadas. Não aceite, sem a devida análise, os conselhos recebidos de terceiros, que muitas vezes não sabem resolver nem os seus próprios problemas. Portanto, rechace e fuja dos “você deve fazer isso ou aquilo”, sugeridos ou insinuados por outras pessoas e até mesmo por amigos. Seja você mesmo.

        TERCEIRA ATITUDE: Não tenha medo de ser feliz.
        Nunca use a infelicidade como desculpa. Há pessoas felizes, mesmo quando provenientes de famílias problemáticas que aprenderam a lidar com suas dificuldades e vencer os seus conflitos. Tais criaturas sabem que são competentes quando enfrentam situações de crise e não têm medo de falhar, mas em situações mais tranqüilas podem não se sentir tão eficazes. Devido à sua incansável coragem, essas pessoas transformam a angústia que poderiam sentir em fonte de conforto e auto-estima.
        Em contraste, há pessoas que sempre viveram sem problemas aparentes e não conseguem ser felizes. Tiveram uma boa educação, bons colégios, muitas facilidades e excessos de liberdade. Mas, provavelmente, não receberam dos pais bons ensinamentos e exemplos edificantes no ambiente familiar. Diante de um contexto tão variado e incerto, a criatura, para se afirmar, não deve ter medo de ser feliz. Precisa, apenas, descobrir um meio, uma forma própria para ser feliz. É recomendável não se assustar, não esmorecer, face à enormidade dos problemas. Procure fazer as coisas em doses pequenas, pois, muitas vezes, não há como cuidar de todos os seus problemas de uma só vez, muito menos dos problemas dos outros.

        QUARTA ATITUDE: Escolha outro caminho, dê outra solução.
        Há varias maneiras de vencer um obstáculo. Procure descobrir qual é o melhor caminho para cada caso. Encare cada obstáculo sob diversos pontos de vista. Se você não perceber que ele existe, poderá ser vítima de seu descuido ou da maldade de muitas pessoas. Outra possibilidade é perceber que ele existe, mas deve ignorá-lo, caso em que você também se sentirá infeliz. Se você reconhecer a existência dele e, ainda assim ser sua vítima, sua é a culpa por negligência ou preguiça em não vencê-lo, nada adiantando lamentar-se. Mas, se você reconhecê-lo e contorná-lo, superá-lo com seu próprio esforço, poderá sentir-se satisfeito e feliz.
        É óbvio que nem sempre podemos mudar o mundo em que vivemos, a opinião das pessoas e suas reações, mas podemos mudar o nosso modo de reagir a essas situações e, com a nossa atitude, encontrarmos solução para qualquer problema.

        QUINTA ATITUDE: Ligue-se.
        Procure estar sempre vigilante e alerta para tudo a sua volta. Procure descobrir a causa de seus infortúnios: ela pode estar bem perto de você ou ser você mesmo. Se os seus problemas o deixam amargo e antes que perceba isso está deixando de participar ativamente da vida, procure a causa e achando-a dê a ela uma solução racional. Nada acontece por acaso. Ligue-se e administre o seu tempo, seu espaço e sua vida, para ser feliz.

        SEXTA ATITUDE: Desligue-se.
        Lembre-se que seu melhor amigo é você mesmo. É preciso muito cuidado ao pedir ajuda a outras pessoas, que sem você o saber podem ser a causa de seus problemas. Desligue-se dessas pessoas tão logo descubra isso. Reafirme-se e lembre-se que você é o juiz de você mesmo, do verdadeiro significado de sua vida. Assim procedendo, não se ressentirá com o controle que outra pessoa possa estar tendo sobre você. Lembre-se que, quando necessário, ser sozinho não é a mesma coisa que solidão.

        SÉTIMA ATITUDE: Sua saúde vem em primeiro lugar.
        Para ser feliz é essencial ter boa saúde do corpo e do espírito. Falta de sono leva à ansiedade, à incapacidade de concentrar-se, à memória fraca e à perda da sensação de bem-estar. A boa alimentação com dieta balanceada em carboidratos, proteínas e gorduras é fundamental para se ter uma boa saúde. Complementando a dieta com vitaminas naturais sob a forma de frutas e verduras balanceadas, a criatura estará dando ao corpo o tratamento que ele precisa. Nas disfunções hormonais, faça o tratamento médico apropriado.

        OITAVA ATITUDE: Encare o trabalho como fonte de prazer.
        Entre o tédio e a ansiedade, ambos indesejáveis, prefira o trabalho como o melhor instrumento para cumprir os seus deveres. O trabalho, executado com satisfação, seja ele qual for, ativa suas energias, deixando-o capacitado para enfrentar os desafios. Vencer os desafios traz sensações confortantes de envolvimento, como prazer e sensação de controle. Esse fluxo de energia ocorre mais no trabalho que no lazer e isso é surpreendente, porque vem demonstrar que a felicidade não é proporcional ao nosso tempo livre. Há pessoas que preenchem o seu lazer com atividades passivas e freqüentemente se sentem esgotadas, cansadas de não fazer nada. Seu tempo livre é um tempo vazio, perdido. Portanto, é preciso fazer do trabalho uma fonte de prazer e, para sentir-se feliz no trabalho, descubra atividades que apresentem desafios.

        NONA ATITUDE: A dor e o sofrimento.
        É fora de dúvida que você não pode se livrar da dor, mas pode livrar-se do sofrimento ou minorá-lo a ponto de tornar-se quase imperceptível. A dor nós sentimos na carne, no corpo; o sofrimento, na consciência. Isso pode ser insuportável e causar-lhe infelicidade. Tenha pensamentos otimistas e sentimentos positivos, e pare de dizer frases depreciativas como “isso sempre acontece comigo” ou “sou uma pessoa muito infeliz” ou ainda, “coitadinho de mim”. Quanto mais cedo você deixar de se lamuriar e reclamar, mais cedo poderá superar o sofrimento ou, pelo menos, aprenderá a lidar com ele.

        DÉCIMA ATITUDE: Dê uma oportunidade para a felicidade.
        Faça o jogo da felicidade, não da infelicidade. Eu proponho um teste para você: escolha um dia da sua vida, apenas um, e nesse dia prometa ser tão perspicaz, tão sensível e tão hábil em relação à felicidade quanto costuma ser em relação à infelicidade. Nesse dia, lembre-se que você merece ser feliz; faça elogios aos outros e a si mesmo; trate apenas os assuntos que lhe tragam sensações agradáveis e responda mentalmente aos elogios com tanto prazer quanto tem feito em relação aos insultos. Dê a este exercício o mesmo tempo e atenção que costuma dispensar à angustia e à infelicidade. Se você o fizer e não se sentir consideravelmente melhor, então vai precisar da ajuda de alguém muito amigo para reerguer sua motivação e auto-estima.
        É preciso não se valer da vingança para sentir-se feliz. A vingança é um sentimento mórbido e deve ser evitada a todo custo. A felicidade faz vir à tona o que há de melhor na criatura; a vingança, o que há de pior. Quando, para a criatura sentir-se bem o outro deve sentir-se mal, isso não é felicidade, é uma forma de vingança. Da mesma forma, não se deve confundir felicidade com uma paixão louca e desenfreada. Esta se evapora facilmente, é ilusória e efêmera; aquela, é permanente.
        É necessário saber buscar os sinais de que a felicidade está ao seu alcance. Quando você perceber que está evitando situações estressantes e tem estratégias para lutar contra aquelas que não sabe evitar é um bom sinal. Outros bons sinais:

        1) Não desenterre os momentos angustiosos já passados e que não tiveram solução.
        2) Não comece mais o seu dia lamentando-se e lamuriando-se.
        3) Sorria quando alguém tentar sabotar a sua felicidade.
        4) Não finja que não está triste se na realidade assim se sente.
        5) Relaxe os seus músculos.

        Um dos fatores mais nocivos que contribui para a infelicidade é a indecisão. A nossa vida é feita de escolhas. Nem sempre é possível conciliar realização pessoal com as exigências de sua família ou de seu parceiro. A escolha não é fácil em certas situações, mas opte pela que lhe fizer mais feliz desde que haja conciliação com a paz de sua consciência. Adiar um dilema não ajuda ninguém. É preciso decidir; portanto, decida sem tensões, correrias ou complicações, e procure sentir-se feliz dentro de sua pele. Nessas escolhas, a sua vida pessoal deve sempre ser colocada em primeiro plano, ainda que a criatura possa parecer egoísta aos olhos dos outros. Mesmo no trabalho, leve em conta que você, como ser humano, deve ter prioridade em caso de dúvida tipo “ou-ou”, como por exemplo: “ou trabalho e não cuido da família direito ou me dedico inteiramente à família e não trabalho”, dilema muito comum entre as mulheres casadas que trabalham fora. Lembre-se que sua felicidade pessoal não tem preço. Mas, se a escolha for continuar trabalhando, faça-a sempre com muita satisfação, mais do que por dinheiro para sustentar vaidades e futilidades. Mas, vigie sempre o seu ritmo de trabalho, afastando o estresse e a ansiedade. Não os deixe acumular além do limite razoável. Tire umas férias!
        Seria recomendável que, de vez em quando, a criatura parasse para pensar e se perguntasse: — o que quero da vida? Ou — para que me serve a vida? Respostas sensatas e sinceras a essas perguntas ajudam a elucidar muitos dilemas, quase sempre ocorrendo quando a criatura percebe que não sobra tempo para nada. Para bem administrar o tempo a criatura deve permanecer serena, ser organizada, disciplinada e procurar ser feliz para se sentir bem consigo mesma. Isso vale para qualquer profissão e para qualquer idade e resolve a desarmonia do seu dia-a-dia. Mas, sempre faça um exame meticuloso de cada coisa ou situação, dos motivos e das atitudes envolvidas. Dessa análise, surgem as alternativas, novos caminhos ou mesmo trilhas disponíveis à sua escolha.
        Existem também muitas técnicas para transformar defeitos em qualidades, sem o subterfúgio do fingimento e da hipocrisia. Procure descobri-las em si mesmo e verá que poderá transformar rebeldia a certos padrões rígidos em algo novo e aceitável. Lembre-se de que o ótimo é inimigo do bom, como reza o ditado popular. Desde que a solução não ofenda a sua dignidade nem fira a sua consciência, por que não se adaptar e desfazer-se de um bloqueio emocional ou de uma limitação? Note-se, ainda, que algumas limitações são temporárias e desaparecem com o correr do tempo e, ainda, que a sabedoria se adquire com a experiência; o conhecimento e a cultura, com a leitura. O fundamental é ter coragem para avaliar-se e mudar-se de acordo com as circunstâncias. Atrás dessas atitudes, vem a felicidade.
        Há uma regra de ouro para ser feliz: evite fazer comparações com outras pessoas; as limitações de cada um são diferentes, mas todos as têm. Aprender a observar e aceitar esta regra é fundamental para se libertar emocionalmente. A criatura que se libertar é capaz de se mover em direção às coisas que são gratificantes e distanciar-se das que não o são.
        Lembre-se que escolher não é renunciar; escolher é exaltar as prioridades transformando sonhos e desejos em realidade. Os problemas existem e jamais deixarão de existir. O infortúnio e a infelicidade fatalmente ocorrerão em nossas vidas, mas se a criatura realmente desejar sentir-se feliz, não na superfície e nas aparências, assimilando as idéias, os conceitos e o processo aqui descritos, nada a impedirá de ser bem sucedida, de verdade.





Texto extraído do livro: "Reflexões sobre os sentimentos" de Caruso Samel.